segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

AS VERDADES E OS MITOS DA INCLUSÃO DE DEFICIENTES: UMA MENSAGEM DE PROTESTO PARA REFLEXÃO



...e a história continua (III).





Este é o terceiro artigo sobre As Verdades e os Mitos da Inclusão de Deficientes na Comunidade. É necessário esclarecer que o enfoque desses textos estará voltado predominantemente à deficiência mental onde partilhamos com nosso filho, falecido em 18 de maio de 2007 aos quarenta e oito anos de idade, uma vida de sofrimentos, de angústias, de momentos de desespero, de impotência, de desorientação, de desalento.

Mas, curiosamente, cada um desses momentos negativos era compensado sempre por uma certeza de que o problema do nosso filho deveria ser encarado de frente, sem preconceito, sem escondê-lo, sem fazê-lo de coitadinho nem deixá-lo jogado em um canto qualquer.

Era o nosso primogênito, nossa esperança, nosso sonho de um futuro glorioso para ele e de alegria e felicidade para nós. Aos vinte e um anos, não estávamos preparados para receber um ser diferente de uma criança normal e sadia.

Assim, constatada a realidade, o nosso mérito - e agradecemos a Deus por isso - foi minimizar o sofrimento e, sem lamúrias, buscar ajuda onde ela estivesse, buscar o conhecimento, a experiência, a orientação e o ânimo para o enfrentamento do problema.

Não descuramos um só momento de mantê-lo em convívio com os amiguinhos, com os colegas, com os parentes, e mesmo com as pessoas adultas de nosso relacionamento. E em casa ou onde quer que ele fosse, procurávamos lhe dar um ambiente saudável, livre de preconceito.

Vivenciamos intensamente, diuturnamente, o seu problema da deficiência mental. E, dos vinte e seis aos quarenta e oito anos, quando faleceu vítima de um coágulo no cérebro, sofremos com ele, além da deficiência mental, ainda mais e profundamente, pelo seu adoecimento mental ocasionado pela esquizofrenia.

Entretanto, já tínhamos a experiência anterior vivida dos vinte e seis anos da deficiência mental, o que nos ajudou a compartilhar com ele, a oferecer-lhe apoio, amor, carinho e a mantê-lo fora da internação psiquiátrica (exceto por trinta dias no início de seu adoecimento) até o seu falecimento.

Mesmo portador de uma deficiência mental aliada a um distúrbio mental grave, mesmo com suas limitações cognitivas, nosso filho foi um vitorioso. Era independente, durante cinco anos foi funcionário de uma empresa pública em Brasília, para onde se deslocava sòzinho de ônibus durante o dia e para o curso supletivo ou para a academia de ginástica à noite.

Lia o jornal aos domingos e escolhia o filme e o cinema de sua preferência, quando lhe entregávamos separadamente em cada bolso, o dinheiro contado para pagar a passagem e a entrada, pois não sabia contar dinheiro nem fazer troco.

Era um excelente nadador e um exímio praticante da então incipiente equoterapia. Amava com devoção e sabia de cor todas as músicas de Roberto Carlos de quem não perdia nenhum espetáculo. Embora fosse uma pessoa introvertida, gostava de participar das festas em família, adorava como se criança ainda fosse, cantar os parabéns e soprar as velas de aniversário. Enfim, com todas as suas limitações, ele tinha uma vida afetiva preservada, um convívio social restrito mas presente, ele sentia acima de tudo que era amado, era respeitado.

A dor de sua perda ainda é muito forte, muito presente. Mas, é pensando nele que temos a certeza que outros pais também poderão conseguir o mesmo objetivo que nós conseguimos: integrar o seu filho deficiente no seio familiar, na escola, no trabalho, na sociedade.

Tudo isto NUNCA foi conseguido "nas escolas e classes comuns da rede regular" de ensino, mas em instituições especializadas como as Pestalozzi e as APAES. Por intermédio delas também se faz a INCLUSÃO!! A essas instituições, e às escolas especiais da rede pública e particular, a nossa homenagem, o nosso preito de eterna gratidão.

Que se faça a inclusão também utilizando as "escolas e classes comuns da rede regular", porém quando elas estiverem (e só quando estiverem) preparadas para isso. Mas que não se menospreze nem se ponha de lado toda a experiência, todo o carinho, todo o AMOR e toda a competência das instituições especializadas.



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