terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

As Verdades e os Mitos da Inclusão de Deficientes: Uma Mensagem de Protesto para Reflexão (I) ... e a história continua.


AS VERDADES E OS MITOS DA INCLUSÃO DE DEFICIENTES:
UMA MENSAGEM DE PROTESTO PARA REFLEXÃO
...e a história continua (II)
Adalberto Lassance


EXPLICAÇÕES P’RA LÁ DE NECESSÁRIAS

Estas “Explicações” deveriam ter antecedido ao primeiro artigo em 23/02/2009, que estreou o blog “As Verdades e os Mitos da Inclusão de Deficientes”. Como, por lapso, isto não ocorreu, o texto em seguida visa corrigir ainda a tempo essa omissão.

Embora editado em setembro de 2004, só tomei conhecimento do livrete intitulado “O ACESSO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA ÀS ESCOLAS E CLASSES COMUNS DA REDE REGULAR”, em 2005, quando já estava de mudança de Brasília para Caldas Novas, em Goiás.

Confesso – e me penitencio por esta falha – que só recentemente tirei essa publicação da prateleira quando então tomei conhecimento do seu conteúdo contestador.

AS ENTIDADES ESPECIALIZADAS “ESTÃO” NA CONTRAMÃO

Confesso também a minha surpresa ao perceber que o seu texto é uma crítica contundente contra tudo que é feito em prol da “educação especial” pelas entidades especializadas como as PESTALOZZI, as APAE, e mesmo as escolas especiais do Governo espalhadas pelo Brasil afora, que obedeceram e sempre se adequaram aos diplomas legais ao longo do tempo e das mudanças das legislações pertinentes.

Essas instituições, pelo que se entende do texto aludido, encontram-se na mais absoluta contramão das “idéias inovadoras” das três autoras que pretendem criar “um novo conceito” na aplicação da “Educação Especial” (sic) em nosso País.

Querem mudar esta terminologia por “atendimento educacional especializado”, como se a atual “Educação Especial” já não propiciasse esse “atendimento educacional especializado”. Assim, querem que também a LDBEN, “ao usar o termo Educação Especial deve fazê-lo permitindo “UMA NOVA” interpretação, um “NOVO CONCEITO”.

APOIO DO MEC AOS “NOVOS CONCEITOS”

Essa publicação editada pela Promotoria Federal dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal, foi prefaciada pela titular da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação. Pressupõe-se, assim, o apoio desse Ministério ao conteúdo da obra em questão. Mas o curioso é que essa Secretaria denomina-se de “Educação Especial” nome esse que as autoras pretendem abolir.

AS CONTRADIÇÕES

É no mínimo bastante curioso o seu conteúdo entrar em contradição com os textos constitucionais e legais vigentes, fato este admitido várias vezes pelas próprias autoras, que assumem a iniciativa de “mudar” e criar “um novo conceito” na metodologia e na interpretação da legislação pertinente. Mesmo que isso contrarie e entre em choque com a Constituição Federal de 1988, com a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (Lei 9394/96) e com a legislação ordinária em vigor.

A NECESSIDADE DA DIVULGAÇÃO

Ainda assim, a leitura dessa publicação deve ser feita com todo interesse e atenção. E mais, é importante e necessário divulgá-la amplamente, para que outras pessoas tomem conhecimento do seu conteúdo e possam reagir, sob pena de uma desagradável surpresa pela imposição de uma nova legislação empurrada de cima para baixo, pela vontade de alguns poucos.

Afinal de contas, está em jogo a felicidade, a qualidade de vida e o bem estar de uma imensa multidão envolvida entre os mais de 24 milhões de deficientes neste País.

A NECESSIDADE DA URGÊNCIA

É necessário e urgente: divulgar para informar e esclarecer. Ler para conhecer. Pensar para analisar. Ponderar para formar opinião.
É necessário e urgente: divulgar para informar e esclarecer. Ler para conhecer. Pensar para analisar. Ponderar para formar opinião.Debater democraticamente para buscar o consenso. E, só então, DECIDIR !

Informação, conhecimento, análise crítica, ponderação, troca de experiências, tomada de decisões – sempre que possível consensual (e é sempre possível quando há diálogo), em busca de um objetivo comum, maior e... melhor !

Decidir, pensando como objetivo nos seres humanos incapacitados pela sua deficiência física, mental ou múltipla, de se protegerem ou de decidirem por si próprios aquilo que lhes seja mais conveniente.

Não importa se são nossos filhos, netos, sobrinhos, primos, ou amigos, ou conhecidos, mas todos eles seres humanos dignos do nosso respeito e do nosso carinho.

A HORA DA DECISÃO

Por tudo isso, a partir do próximo artigo “AS VERDADES E OS MITOS... e a história continua (III)”, será feita uma análise minuciosa do texto da publicação “O ACESSO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA ÀS ESCOLAS E CLASSES COMUNS DA REDE REGULAR”.

Nessa análise já temos a certeza de uma grande discordância do conteúdo dessa publicação, onde será dada uma interpretação diferenciada daquela proposta pelas três autoras da obra citada.
Mas, sabe-se ser necessária muita humildade e a convicção de que ninguém é dono da verdade.

Assim, na medida em que os textos objeto de nossas ressalvas forem sendo divulgados, eles serão acompanhados de nossos comentários.
Caberá a você, caro leitor, aceitá-los, ou não. Ler com atenção, pensar, analisar e decidir. Se são válidas, ou não, as argumentações das autoras para as “mudanças” e para a criação de “um novo conceito”, ou se deve continuar aquilo que é intrínseco à legislação atinente à Educação Especial atualmente em vigor no Brasil.
Mudanças serão necessárias? Vamos então discuti-las amplamente, democraticamente. Evidente que é necessário evoluir e não se pode parar no tempo. Mas com critério, com o pé no chão, separando a teoria da realidade prática vivida hoje em nosso Pais.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

AS VERDADES E OS MITOS DA INCLUSÃO DE DEFICIENTES: UMA MENSAGEM DE PROTESTO PARA REFLEXÃO



...e a história continua (III).





Este é o terceiro artigo sobre As Verdades e os Mitos da Inclusão de Deficientes na Comunidade. É necessário esclarecer que o enfoque desses textos estará voltado predominantemente à deficiência mental onde partilhamos com nosso filho, falecido em 18 de maio de 2007 aos quarenta e oito anos de idade, uma vida de sofrimentos, de angústias, de momentos de desespero, de impotência, de desorientação, de desalento.

Mas, curiosamente, cada um desses momentos negativos era compensado sempre por uma certeza de que o problema do nosso filho deveria ser encarado de frente, sem preconceito, sem escondê-lo, sem fazê-lo de coitadinho nem deixá-lo jogado em um canto qualquer.

Era o nosso primogênito, nossa esperança, nosso sonho de um futuro glorioso para ele e de alegria e felicidade para nós. Aos vinte e um anos, não estávamos preparados para receber um ser diferente de uma criança normal e sadia.

Assim, constatada a realidade, o nosso mérito - e agradecemos a Deus por isso - foi minimizar o sofrimento e, sem lamúrias, buscar ajuda onde ela estivesse, buscar o conhecimento, a experiência, a orientação e o ânimo para o enfrentamento do problema.

Não descuramos um só momento de mantê-lo em convívio com os amiguinhos, com os colegas, com os parentes, e mesmo com as pessoas adultas de nosso relacionamento. E em casa ou onde quer que ele fosse, procurávamos lhe dar um ambiente saudável, livre de preconceito.

Vivenciamos intensamente, diuturnamente, o seu problema da deficiência mental. E, dos vinte e seis aos quarenta e oito anos, quando faleceu vítima de um coágulo no cérebro, sofremos com ele, além da deficiência mental, ainda mais e profundamente, pelo seu adoecimento mental ocasionado pela esquizofrenia.

Entretanto, já tínhamos a experiência anterior vivida dos vinte e seis anos da deficiência mental, o que nos ajudou a compartilhar com ele, a oferecer-lhe apoio, amor, carinho e a mantê-lo fora da internação psiquiátrica (exceto por trinta dias no início de seu adoecimento) até o seu falecimento.

Mesmo portador de uma deficiência mental aliada a um distúrbio mental grave, mesmo com suas limitações cognitivas, nosso filho foi um vitorioso. Era independente, durante cinco anos foi funcionário de uma empresa pública em Brasília, para onde se deslocava sòzinho de ônibus durante o dia e para o curso supletivo ou para a academia de ginástica à noite.

Lia o jornal aos domingos e escolhia o filme e o cinema de sua preferência, quando lhe entregávamos separadamente em cada bolso, o dinheiro contado para pagar a passagem e a entrada, pois não sabia contar dinheiro nem fazer troco.

Era um excelente nadador e um exímio praticante da então incipiente equoterapia. Amava com devoção e sabia de cor todas as músicas de Roberto Carlos de quem não perdia nenhum espetáculo. Embora fosse uma pessoa introvertida, gostava de participar das festas em família, adorava como se criança ainda fosse, cantar os parabéns e soprar as velas de aniversário. Enfim, com todas as suas limitações, ele tinha uma vida afetiva preservada, um convívio social restrito mas presente, ele sentia acima de tudo que era amado, era respeitado.

A dor de sua perda ainda é muito forte, muito presente. Mas, é pensando nele que temos a certeza que outros pais também poderão conseguir o mesmo objetivo que nós conseguimos: integrar o seu filho deficiente no seio familiar, na escola, no trabalho, na sociedade.

Tudo isto NUNCA foi conseguido "nas escolas e classes comuns da rede regular" de ensino, mas em instituições especializadas como as Pestalozzi e as APAES. Por intermédio delas também se faz a INCLUSÃO!! A essas instituições, e às escolas especiais da rede pública e particular, a nossa homenagem, o nosso preito de eterna gratidão.

Que se faça a inclusão também utilizando as "escolas e classes comuns da rede regular", porém quando elas estiverem (e só quando estiverem) preparadas para isso. Mas que não se menospreze nem se ponha de lado toda a experiência, todo o carinho, todo o AMOR e toda a competência das instituições especializadas.